Segredos

[de Marcia Misawa]

Eu era pequena e começava a desvendar o incrível mecanismo de distribuição de presentes do Papai Noel… Nem desconfiava das preocupações de minha mãe, quando se aproximava dezembro.

Dona Suzue fazia questão de não me decepcionar. Uma vez, comprou uma boneca de plástico das mais baratas que pôde encontrar e deu a ela uma caixa de meias certinha para seu tamanho. Também catou retalhos e costurou escondida, enquanto eu dormia. Todo esse carinho veio à tona na manhã do dia 25, quando vi o nenê dormindo numa manta de flanela. Ao pé de sua cama de cartão, uma troca de roupas dobrada caprichosamente.

Natal vem, Natal vai. Eu já tinha sete anos e, dessa vez, meu pai tentava me convencer a pedir ao bom velhinho uma boneca chamada Mãezinha que ninava e tocava música. Ora essa, eu queria outra coisa! Definitivamente, meu pai não entendia nada sobre a fábrica de onde saíam todos os brinquedos do mundo.

Então uma vizinha mais velha disse:

— Papai Noel não existe!

Como poderia não existir se ele nunca falhava? Isso não fazia o menor sentido. Perplexa, fui conversar com minha mãe.

— Na verdade o Papai Noel… é o papai. Não conte para seus irmãos, é segredo!

Talvez eu devesse ter ficado triste ou me sentido traída. Eu me senti mais amada.

Debaixo do pinheiro, olhando meus irmãos, fingi que não sabia da verdade. Mas eu sabia de tudo: dos sacrifícios, da ternura e da alegria no preparo daquele instante.

A Mãezinha? Essa boneca eu tenho até hoje.